bons tempos



Fiz uma visita sentimental ao meu primeiro endereço em Brasília, na 410 sul. Era um desses prédios de três andares, sem pilotis. Não sei se localizei o bloco certo, mas pelo menos encontrei um quadro bonito para um auto-retrato.

Mudei para esse bloco aos cinco anos de idade, vinda da roça. Fiquei amiga dos filhos do porteiro. Sempre via televisão na casa deles, porque na minha não tinha. Eles moravam numa espécie de porão, embaixo do prédio. O espaço era pequeno, mas foi expandido com a demolição da parede dos fundos. Eu achava aquilo lindo: a parede quebrada, formando um arco irregular; o salão parecido com uma caverna, com piso de terra batida, fracamente iluminado por umas lâmpadas penduradas em uma teia de gambiarras.

Eu achava lindos até os ratos, que naquela época não eram esses camundonguinhos que a gente vê hoje em dia. Eram ratazanas do tamanho de um gato adulto, e infestavam a cidade inteira. Quem morou em Brasília nos anos 70 se lembra.

Bons tempos, aqueles. As crianças podiam brincar na rua até tarde da noite e uma das poucas preocupações dos brasilienses eram os ratos.


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